quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Coisas do coração!

 


Ontem, mais uma vez, tivemos esse importante evento, que dá pelo nome de Dia dos Namorados.
Na verdade, Dia de São Valentim, nomeado para padroeiro do Amor, Namoro, Noivado e Casamento.
Missão quase impossível, pois claro, acabou martirizado na Roma Antiga, mesmo sendo reconhecido também por outras religiões mais a oriente. Estas nomeações à pressa dão nisto e ainda não havia "questionário"!
Nestas datas festivas de ocasião, que fomos criando ao longo do crescimento criativo neo capitalista, valem-me competências e ferramentas que acumulei. Algumas não passam de um ajuntamento, outras nem sei que as tenho ou onde estão!
O dia estava a acabar e desejava, e sabia, que ia acabar na cama! Não, não sou convencido! Era aquela sensação de um saber de experiência feita! Uma certeza!
Tendo em conta as minhas dificuldades recentes, muito recentes, na cama, fui ali à estante ver se encontrava uma edição do Kamasutram, mais conhecido por Kama Sutra. Não, não o encontrei! É o costume tendo em conta a minha disfunção organizativa. A quantidade de pó em cima dos livros também não me entusiasmou a ir mais longe. Por momentos, confesso, vacilei! Pelos vistos há sempre alguma pressão, mesmo que inconsciente, nestes dias.
Mas lá me lembrei do novo poço de sapiência dos nossos dias! Obrigado Google! São Google!
Regresso ao quarto com o entusiasmo renovado! Confiança! Tu consegues!
Passa-me algum momentâneo nervoso miudinho quando consigo aferir que a bateria do telemóvel está cheia! Por aqui não há-de falhar!
Equipei-me a rigor com os meus óculos de leitura de 2 dioptrias e Googlei o tema encontrando os habituais 350.000 resultados!
Lá olhei para aquilo tudo e mandei-me a um que me pareceu bom, pelo menos os bonecos eram bons, e a minha experiência a escolher discos e livros pela capa dá-me confiança!
Estava a chegar o momento!
Dentro do meu pijama discreto, avancei e sentei-me na cama, lentamente e até com algum estilo, confesso!
Paro para pensar o próximo passo. Um dos segredos destas coisas é não ter pressa, uns chamam-lhe tântrico e tal mas alguns não passam de incompetentes! Não me assaltou este medo! Estava determinado ou toldado pelo objectivo o que também encerra alguns perigos mas o risco estará sempre presente nas nossas vidas!
Avancemos!
Olho para a cama, verifico os bonecos do livro, retiro os óculos que não são bons para o estilo e aí vou eu! Abraço fortemente o meu peito, inclino-me um pouco para trás e deixo-me tombar lateralmente e de forma suave na cama!
Sucesso!
Os Ais, Uis, Hãs e a respiração forte e compassada eram a evidência da coisa!
A noite ainda estava no início!
Confiança!
Daí para a frente os movimentos lentos repetiram-se acompanhados de gemidos, uns quase surdos, outros mais sonantes, involuntários, e até um pouco embaraçosos face à qualidade de construção da minha alegre casinha! O que pensarão os meus vizinhos de baixo!
Aos poucos fui ficando mais confortável até que, sem pressas, atingi o Santo Graal, o doce prazer em êxtase numa posição de conforto, consubstanciada num longo e profundo suspiro que me encaminhava definitivamente para uma boa noite de sono.
Uma espécie de discurso do desejo porque durante a noite as cenas repetiram-se, agora já sem recurso ao manual! Burro velho, afinal, aprende línguas mas com péssimo sotaque!
Posto isto mergulhei no sono, no abençoado, desejado e prazenteiro sono que me recicla e dá força para encarar o dia seguinte. Um de cada vez! Um de cada vez!
Todo este prazer de dor e alívio, que me anima e impele, emerge de uma operação ao coração, uma cirurgia cardio torácica com execução de 3 bypass no Hospital de Santa Cruz. Apenas há uma semana.
As equipas médicas, de enfermagem e auxiliares com quem me fui cruzando, começando na minha médica de família, são de excelência. Os familiares e os amigos que me rodeiam não ficam atrás e são também a minha força. Não que tivesse dúvidas mas demonstram que "estão lá!"
Nunca estive só! Nem perto!
O tal êxtase, assim meio utópico, digo-vos, é possível de alcançar!
A todos, do fundo do coração, mesmo avariado e agora reparado, muito obrigado por estes momentos de prazer únicos.
Até sempre!

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Vamos até aos Picos da Europa!

Dia N-1
Era dia 1 de Maio, o Primeiro de Maio.
Estava eu "esvacalhado" no sofá a ver um documentário qualquer num daqueles canais derivados do National Geographic quando, já pela tarde, tocou o telefone.
Era o Carlos Bastos a desafiar-me para no dia seguinte irmos dar uma volta de mota.
Sim, claro, respondi eu numa calma olímpica!
Vamos até à Arrábida e almoçamos um peixinho algures por aqueles lados, propus eu!
Apetecia-me dar uma volta maior mas não sei onde, respondeu ele.
Vamos até ao Douro? Alentejo? À Galiza?
Nada...
E, do nada, saltou para a conversa... Picos da Europa!
Boa ideia! Quando vamos, perguntei.
Pode ser amanhã de manhã, se quiseres!
Está feito!
Daqui a pouco, quando tiver as coisas arrumadas, telefono-te!
Desliguei e, meio atarantado com a decisão, lá sosseguei a cabeça para organizar a bagagem.
Vou buscar o saco velho do costume que cabe na "top case" da moto e vai de seleccionar a roupa que levo.
Cada vez levo menos e chega sempre e sobra!
Nos dois pequenos alforges laterais levo fato de chuva, uns petiscos para o caminho, umas ferramentas, óleo da transmissão da mota...
Acho que está tudo.
Pelo sim, pelo não actualizo no telemóvel os mapas da Cantábria, Astúrias, Leon e Castela e Galiza. O Carlos conhece bastante bem a zona, eu também já lá estive e temos a mania dos mapas mas pode dar uma ajuda.
Telefono-lhe de volta dizendo-lhe que estava tudo pronto para irmos.
Horas para sair?
Gostamos de sair cedo para aproveitar o dia mas, na verdade, já não durmo grande coisa nestes dias com a agitação da saída!
Já que não durmo, saio cedo!
Fica para as 6h!
Feito!

Dia 1 - 2019-05-02
Ainda antes das 6h saímos.
Eu já sabia que o Carlos também não sossega nestes dias!
Os dias de ligação são sempre aqueles que mais custam, não só pelos cerca de 800 km a vencer até Boca de Huérgano (Riaño) mas também pelo tipo de estradas que faremos.
Os troços em auto-estrada são chatos, vê-se pouco e, em Portugal, são caros.
Assim sendo tentamos um mix que, não sendo a forma mais rápida de lá chegar, tem variações que despenalizam a monotonia das AE´s.
Saída de Lisboa pela A1 em direcção à A23 passando pelo meu Km 91,4 onde em Agosto de 2018 fiquei "agarrado" com um furo no pneu traseiro.
Desta vez, logo a seguir, quando entramos na A23 alinham-se à nossa frente a Lua e Vénus num horizonte ainda baixo e de lusco fusco.
Era, certamente, um indicativo de bom presságio. Pelo menos gosto de pensar que era assim, apesar de ser pouco dado a astrologias!
Pelos lados de Abrantes fugimos à A23 e íamos saindo e entrando para fintar os pórticos. O Carlos é "craque" na coisa já que é nativo da Guarda!
E assim fomos andando entre a A23, N3 e N18 até à Guarda optando pela direcção de Foz Côa, Pocinho, Bragança, Montesinho, Puebla de Sanabria onde fizemos uma paragem junto ao rio.
Na verdade toda esta zona desde Bragança merece, só por si, uma dedicada visita pelo tanto que oferece.
Recuperamos o fôlego naquele agradável local e retomamos o caminho.
Agora tomamos a direcção de Leon mas fazemos ainda um desvio à direita para ir ao encontro de Mansilla de Las Mulas. Poupam-se uns Km´s e roda-se em estradas mais secundárias. Ainda andamos de volta do mapa e do gps mas lá atinámos com um pedido de informação numa aldeia, a que prontamente nos responderam, ajudando. Tínhamos falhado um cruzamento uns 2 km atrás! Enfim, nada!
A caminho de Riaño fica-nos a vontade de voltar a um local que informava existir ali perto uma estrada romana. Talvez na volta...
Antes de Riaño, ao fundo, o horizonte muda drasticamente anunciando a presença destas fantásticas montanhas. Não há como não gostar daquela vista!
Após passar a parede da barragem de Riaño com um grande lago formado só falta chegar ao nosso destino do dia, Boca de Huérgano, logo ali a uns 10 Km.
Não trazíamos nada marcado para ficar no Hotel de La Reina.
É um pequeno hotel familiar com um pessoal naturalmente simpático e muito frequentado pela Tribo das Motas, portanto, boa gente!
Vínhamos confiantes mas ver umas quantas motos paradas por ali levanta-nos a dúvida se existirão vagas. Se não houvesse talvez o melhor fosse ir de novo para Riaño onde a oferta é maior.
Mas estava tudo bem e havia lugares.
Motos encostadas e nada melhor que um banho para recuperar!
Ao fim de um dia destes já não apetece sair para mais nada e fomos até ao bar beber uma cerveja e travar conversa acidental com um companheiro suíço, com 68 anos, e que viaja sozinho na sua GS Adventure.
Acabamos por jantar juntos no hotel já que a conversa era agradável e sempre desemperrámos o nosso francês. Para mais o preço do menu é mais que justo. São também estes bocadinhos que dão alma a uma viagem e que nos ensinam que é muito melhor ser um visitante, respeitador de quem está, do que apenas um turista ávido de cumprir à letras os passos perfeitos dos guias e das reviews.
Passam-nos, entretanto, a informação que o Desfiladeiro de Beyos está cortado devido a uma derrocada. Temos que decidir forma de contornar aquilo. Logo se vê lá para as bandas de Cangas de Onís.
Vamos dormir que amanhã há mais!

Dia 2 - 2019-05-03
Uma taça de café para acordar e uma tostada a acompanhar!
Arrumamos tudo e decidimos não marcar já outra noite neste local. Logo se verá como corre o dia e onde ficamos.
Saímos em direcção a Potes pelo Puerto de San Glorio.
São os primeiros contactos com a presença física da montanha ali mesmo! Apetece começar a parar para tirar umas fotos! É quase inevitável esta sensação, pelo menos para mim.
As previsões meteorológicas eram boas mas isso não interessa nada.
Em Puerto de San Glorio, a cerca de 1.600m de altitude, a natureza mostra quem manda aqui. Nevoeiro cerrado e uma chuva miudinha cortam-nos a vista para o vale e obrigam-nos a circular bem devagar. Existe um miradouro bonito neste trajecto, o Mirador del Cervo mas só demos por ele quando lhe passamos ao lado! Tal era! É assim durante uns quilómetros até sairmos daquele "chapéu" a meio caminho de Potes.
Revela-se, mesmo assim, o vale esplendoroso já que ainda estávamos alto.
Num recorte com mesas de piquenique paramos pois a moto do Carlos ficou sem luzes de médios. Não convinha nada mas, ao que consta, esta GS é uma "papa-médios" e ele tem uma suplente!
Vai de mudar!
Coisa simples que se complicou. Primeiro partiu-se uma das protecções em plástico dos contactos e depois saiu do sítio o arame que agarra a lâmpada e nunca mais atinávamos com aquilo!
Ainda saltaram da mala as ferramentas mas lá se resolveu a coisa sem necessidade de abraçadeiras, atilhos e adesivo!
Até Potes sempre a descer com paragem quase que obrigatória para visitar esta pitoresca localidade. Sim, é turística, mas vale a pena.
Num saltinho vamos até ao Mosteiro de Santo Toribio de Liébana que dizem possuir um verdadeiro pedaço da cruz onde Cristo foi crucificado.
Um pouco mais acima a pequena Ermida de San Miguel oferece uma vista soberba. Valeu este desvio.
Voltamos a Potes para seguirmos pela CA185 até Fuente Dé que nos esmaga com uma parede maciça de rocha. O nevoeiro cobre o cume e as cabines do teleférico desaparecem por entre as nuvens. Decidimos não subir pois informam-nos que lá em cima a visibilidade é quase nula e nem recomendam caminhar na zona.
Regressamos a Potes para apanhar a N621 em direcção a Panes pelo Desfiladeiro de La Ermida que não sendo o mais apertado ou espectacular dos que por aqui existem é o mais longo de todos impondo-se também fortemente na paisagem.
Dali para Cangas de Onís a estrada é um pouco mais larga (AS114) e as curvas menos acentuadas pelo que o percurso se torna um pouco mais rápido.
Infelizmente as névoas não deixaram os cumes e o Naranjo de Bulnes esteve sempre escondido. Nessa medida também não fomos a Sotres e Treviso mas são localidades que valem a pena ser visitadas.
Passagem por Cabrales, terra dona de um fantástico queijo azul. A não perder!
Não chegamos ao centro de Cangas de Onís e seguimos directamente para um dos postais das Astúrias. Covadonga. Local que congrega história, espiritualidade e natureza. Fazemos a visita obrigatória à Cueva e à Basílica com toda a facilidade uma vez que indo de mota se estaciona praticamente à porta, facto bem improvável para quem for de carro. Em dias de muita afluência isto é uma loucura de gente!
Voltamos a Cangas de Onís e procuramos local para dormir que facilmente se decide assim que paramos a moto. Ficamos mesmo ali na rua da "Ponte Romana" que julgo ser Medieval com a sua bela Cruz da Vitória suspensa na mesma.
Já que estamos em terra de queijo que venha uma tábua deles para o nosso jantar e também umas batatinhas fritas com uns queijos creme para escorregarem melhor! Soube bem acabar o dia assim!
Antes de ir dormir procurei um banco que não me levasse a bela comissão de Eur 2,00 por levantamento. Lá encontrei uma ATM, no Liber Bank. Mas foi ainda melhor... deu-me o papel com o comprovativo de levantamento de Eur 150,00 mas não me deu o dinheiro! Vamos ver o que acontece na minha conta! Senti-me num casino a  acabar de perder uma aposta!

Dia 3 - 2019-05-04
De autocarro até aos lagos! Sim, de bus!
O transito naquela estrada que liga Covadonga aos Lagos de Covadonga é de tal maneira intenso que se viram obrigados a, em períodos de grande afluência, vedarem a circulação a viaturas privadas pois pura e simplesmente o caminho ficava obstruído. Motos incluídas. Só o poderíamos fazer antes das 8h da manhã e na descida teríamos que seguir atrás de um autocarro.
Decidimos ir no tal autocarro e demos a nossa passeata a pé lá em cima aligeirados do equipamento motard! Lagos Enol e Ercina, Minas de Buferrera, Mirador de La Reina e Centro de Interpretação dos Picos da Europa

complementam a nossa visita
antes de voltarmos a descer no tal bus e apreciar a destreza dos condutores cruzando-se em pontos estratégicos do percurso.
Voltamos a perguntar no Turismo se o Desfiladeiro de Beyos estava ainda cortado. Disseram-nos que, por ser fim de semana, param os trabalhos e é possível passar numa faixa apenas recorrendo-se de sinalização com semáforo. Excelente novidade que nos pôs a caminho pela N625 até ao tal desfiladeiro mais do que desejado! E vale mesmo a pena! É talvez o mais apertado de todos sendo quase claustrofóbico em alguns pontos. Notável obra de engenharia encaixar esta estrada aqui!
Deixamos as escarpas e seguimos para Puerto de Ponton, viramos à esquerda para uma estrada de montanha (LE244) pelo Puerto de Panderruedas em direcção a Caín, passando por Posada de Valdeón. Após esta povoação a estrada até Caín que acompanha o Rio Cares é muito estreita pelo que há que ter cuidados redobrados. Atenção às restrições ao tráfego em alturas de grande afluência de gente. Existe aqui a possibilidade de apanhar um autocarro desde Posada de Valdeón.
En Caín obrigatório fazer a pé, nem que seja apenas um troço, da Ruta del Cares.
Imperdíveis as falésias,  aquelas passagens em túneis, as pontes e o trilho escavado na rocha! Há que o fazer e recordar para sempre! A não falhar!
No regresso ao parque de estacionamento encontramos um simpático grupo vindo de Portugal, também a viajar em moto, com o lema "Volta Pipi (estás perdoado)". Pipi porque iam fazer os Picos da Europa e os Pirenéus entre 2 e 16 de Maio! Valentes!
Dali decidimos regressar ao local onde dormimos no primeiro dia seguindo pelo Puerto de Pandetrave até Portilla de la Reina e apanhando depois a N621 até Boca de Huérgano.
Desta vez ainda mais gente ali junto ao hotel. E já não era cedo. Volta a correr tudo bem e arranjam-nos quarto para dormir. Correu mesmo bem!
Repetimos ali o jantar pois é uma óptima solução e na companhia do tal grupo que encontramos em Cain que também ali estavam alojados e que, simpaticamente, nos oferecem um "tócolante" da sua volta Pipi! Que façam uma boa viagem! Isto acaba por ser pequeno nestas voltas por estes vértices.

Dia 4 - 2019-05-05
E era dia de voltar! As noites por aqui ainda são frias e esta não foi excepção. -4ºC durante a madrugada deixaram as motas com uma camada de gelo em cima e o alcatrão também com gelo, especialmente nas zonas de sombra.
Pelo sim, pelo não e apesar de a estrada ter sal e ser rugosa adiamos a saída até que a temperatura subisse um pouco mais.
A meio da manhã fazemos as despedidas cordiais a estes simpáticos responsáveis do hotel e decidimos que viríamos pelo Douro onde poderíamos pernoitar na casa que foi dos meus avós paternos.
Após Riaño cruzamo-nos novamente com a tal indicação de "Estrada Romana" e decidimos ir espreitar. Conduzimos as motos por uma pequena estrada de terra até onde pudemos. Era mais fácil com a Transalp mas a CBF também lá chegou. Para a GS aquilo é o seu habitat natural!
Esta estrada romana está identificada como "Rota de Senderismo" com o código PR-LE 36 Camino Real.

Cheira-me que o reino se apropriou desta calçada que foi romana mas isso é algo a investigar. A primeira parte do nosso trilho é basicamente lama e nada de ver a tal Calçada Romana. Mas a coisa muda de figura cerca de 1 Km à frente onde ela se começa a mostrar em todo o seu esplendor ainda antes da passagem em El
Pajar del Diablo e no Pico Llobera. Encontra-se este troço ainda em muito bom estado mostrando a construção cuidada, quer do piso quer dos taludes, naquele local acidentado. As vistas para o rio Esla para os prados e para a estrada que o acompanha são fantásticas por entre os bosques de carvalhos. Valeu a pena esta incursão acidental!
Regressamos às motos tomando a direcção de Valencia de Don Juan onde decidimos também fazer uma pequena paragem. Aquele Castelo do Séc XV impõe-se na paisagem junto à bela ponte que atravessa o rio.
Toca a despachar serviço pela Autovia Ruta de La Plata até Benavente onde derivamos para a Autovia de Las Rias Bajas em direcção ao Lago de Sanabria.

Aqui mais uma paragem. É também um local magnífico este enorme lago natural de origem glaciar! Para mais estava bom tempo e, nesta altura, estava tudo muito calmo, condição que é muito difícil de encontrar em pleno Verão quando a área se enche de gente para vir à praia. Uma verdadeira enchente que temos a sorte de não encontrar!
Visita de médico feita e saímos já em direcção a Portugal passando por Montesinho, Bragança, Foz Côa, São João da Pesqueira, Castanheiro do Sul e... Desejosa, o nosso destino. Já estávamos desejosos de cá chegar, para falar verdade!
Procedemos à manobra de arrumar as motos junto à casa, talvez a mais arrojada de toda a viagem! Mas ficou tudo direitinho! Amanhã é que vão ser elas para as tirar de lá! É hora de descansar mas também aqui não há muito para fazer!


Dia 5 - 2019-05-06
Operação de retirar as motas do local onde estavam estacionadas realizada com sucesso. Com umas resmunguices pelo meio mas com sucesso!
Regresso a Lisboa mas, já que aqui estamos, ainda vamos inventar mais umas curvas pela N323 para ir até um miradouro numa estrada abandonada junto a Távora e depois visitar o Eremitério de São Pedro das Águias.
Junto à Granjinha tomamos a estrada a descer para este monumento românico, talvez o mais importante do concelho de Tabuaço. Se a ideia era estar afastado de tudo, conseguiram! Era realmente um desterro. Hoje chega-se cá muito bem nesta pequena estrada e até nos deparamos com uma visita de estudo que aproveitámos não só para ir ouvindo umas explicações como também ter acesso ao interior do mesmo, o que é raro. Apesar de ter um interior bastante despojado não deixa de ser interessante ter tido o respectivo acesso.
Toca de desmanchar o que nos resta destas curvas do Távora em direcção a Viseu via Vila Nova de Paiva e Satão. Não sei o que é pior para quem vem neste sentido. Se seguir por dentro de Viseu entre transito, semáforos e intermináveis rotundas se ir "dar a volta ao mundo" para apanhar o IP3! Desta vez demos a volta ao mundo! Talvez não fosse mau reverem a sinalética neste acesso pois quem não conhece há-de ter todas as dúvidas possíveis. IP3-Coimbra a verde, sinalética da A24 e 25 a  azul onde aparece Coimbra por AE e Guarda tudo junto e sei lá mais o quê sem nunca aparecer o raio da indicação inicial a verde do IP3. Isto é só para quem sabe! Quando já achamos que estamos mal e a andar não se sabe bem para onde lá surge o IP3! Pronto! Agora é seguir em frente neste perigoso IP onde todo o cuidado é pouco. Agora as paragens são nas áreas de serviço para esticar as pernas desenjoar de tanta AE. E também para vigiar a corrente da moto que está nas últimas! Já não foi boa, acabei com o resto!
Chegamos a casa bem depois destes cerca de 2.300 Km.
Os Picos da Europa são um belo destino e, para quem gosta de viajar de moto, são já um clássico. E justificado!
Resta-me agradecer ao meu companheiro de viagem Carlos Bastos a excelente companhia. Ainda por cima beneficiei do facto de ele conhecer melhor a zona. Nem a chuva nos incomodou, o que não é fácil por estas paragens! Apenas umas névoas a esconder uns cumes aqui e ali mas aqui manda é a natureza e contra isso não vale a pena lutar.
Até um dia destes!

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Road to Ireland... and back!

Dia N-x
Diz-me o Carlos Bastos que, ele e os amigos do costume, estavam a pensar ir até à Roménia de moto.
Boa! Mas olhem que isso é um bocado longe para ir fazer assim com tempo tão contado!
Não valia a pena pensar em ir até lá de avião e alugar umas motas lá?
Ou meter as motos num transporte de mercadorias e recolhê-las por lá perto?
Sim, mas... percebes... não é a mesma coisa... é uma confusão...
Enfim, na verdade, eu acho é que a malta gosta mesmo de usar as nossas máquinas e assim poder por os "tócolantes" nas malas e constituir um orgulhoso currículo!
Mesmo assim ainda insistiu mas lá lhe fui dizendo para não contarem comigo para a coisa.
E assim ficamos!

Dia N-(x-1)
Olha, afinal vamos à Irlanda! (repetiu-me o Carlos Bastos uns tempos depois)
Boa! (repito-me)
Por essa altura ainda pertencia à população activa mas tinha demonstrado à entidade patronal a intenção de aderir a um plano de pré-reformas em curso.
Entretanto, em Abril, deixei efectivamente de trabalhar e, na sequência da desistência de um dos elementos deste grupo, o Renato, (infelizmente não pelas melhores razões) perguntaram-me se quereria tomar o seu lugar na viagem que incluía o ferry para a Irlanda devendo-se, no imediato, fazer as alterações ao lugares na respectiva cabine reservada.
Aceitei e vi-me assim metido nesta Irish Trip!
Comprei logo um Guia! Coisa à antiga, esta mania dos livros!

Dia N-2
Resolvi-me, finalmente, a preparar a bagagem e acomodar tudo na mala traseira e nos 2 alforges laterais da Honda CBF 600 SA.
Cabe tudo, incluindo até algumas inutilidades!
Num ataque de optimismo coloquei na bagagem a transportar o fato de banho e toalha... junto ao fato de chuva!
Não deixa, porém, de ser libertador este "destralhar" para viajar com pouco! Eu sei que estamos no Verão mas fomos acertar em cheio numa onda de calor que se ia fazer sentir no início da viagem, a 4/8/2018.
Previam-se temperaturas na casa dos 40´s até Santander.
Há que sair cedo, insistia eu, mas a negociação estava dura!
Assustados, ou conscientes da coisa, ficou apalavrado sair pelas 5h da matina!
A ver!

Dia N-1
"Pinturas e Retoques" finais na bagagem, verificação dos documentos, alguns medicamentos de ocasião, mota...
"Tá tudo!", digo eu
Cheira-me que hoje é dia de dormir pouco!
É a "Excitex!"
Novidade de última hora e porque o calor assusta, saída marcada para as... 4h!
Bóra! (já ia mesmo dormir pouco e sofro com o calor... )

Dia 1 - 2018/08/04
Toca a acordar depois de ter dormido a correr!
Colocado tudo na moto lá nos encontrámos à hora marcada nas bombas da Encarnação, ali perto do aeroporto.
Malta cumpridora!
Cafézinho da ordem tomado, e... Siiiiiiiiga!
Mal sabia o que me esperava!
Em plena A1, antes da saída para a A23, o pneu traseiro da CBF, depois de ter sofrido algures um corte transversal, despejou de repente e, por pouco, não fui ao chão.
Lá me aguentei e encostei são e salvo na berma ao Km 91,4. Há que haver rigor, até nisto!
Correu bem, apesar de tudo! Era isto o meu auto-consolo...
Pára de imediato junto a mim o Carlos Bastos e logo deu para perceber que não havia "Kit Anti-Furo" que me fosse valer, e eu até tinha um!
O corte era de uns 3 cm e o pneu parecia mesmo descolado da jante.
Com muita pena minha fiquei por ali à espera do reboque da assistência em viagem tendo as outras duas motos seguido caminho. Não havia muito a fazer e ficarem ali não adiantaria nada. Senti a tristeza e preocupação do Carlos Bastos quando dali saiu mas essa foi, sem dúvida, a melhor decisão.
Boa viagem que logo vos apanho!
Regressei, portanto, a Lisboa para colocar um pneu depois de ter telefonado, aquela linda hora da manhã, ao Vitor Marinho que, de imediato, se disponibilizou para receber a moto na oficina.
Um privilégio ao alcance de poucos que não me cansarei de elogiar. No mínimo, obrigado!
E lá vim no Milhas e Maravilhas, uma estreia nestas coisas de reboques que nunca tinha experimentado.
Recepção na oficina como acertado, pneu mudado, dois dedos de conversa com o amigo Vitor e fiz-me de novo à estrada.
Aproveitei para descansar os meus companheiros de viagem dizendo que estava tudo bem e que iria juntar-me a eles.
E lá fui com um calor do diabo!
Nas estações de serviço aproveitava e molhava-me da cabeça aos pés na zona da "Água e Ar".
Sempre na casa dos 40´s!
Mas ia... e a bom ritmo!
Mas, de novo, mal sabia eu!
Já perto de Valladolid a CBF... calou-se!
Nããããooo!
Novamente na berma!
Gasolina, ok! Bateria, ok! Chave e corta-corrente, aparentemente, ok!
Tudo ok mas o botão do motor de arranque não dava sinais de vida!
Praguejei a solo e veio-me à cabeça a Transalp que nunca me tinha deixado apeado!
De repente, nem sei bem como, lembrei-me que quando tirei a moto do reboque parecia que não encontrava bem o descanso. Havia realmente ali qualquer coisa diferente!
Talvez fosse o interruptor que faz corte de corrente...
Lá voltei a falar pelo telefone ao Vitor que nem queria acreditar no que ouvia. Parecia que alguma força maléfica não queria que eu fosse!
Sou pouco dado às bruxarias mas... que las hay, las hay!
E Júpiter podia estar alinhado com Marte e Mercúrio, tudo alinhado com a A23 e a A62... sei lá!
Bruxas à parte dediquei-me à coisa com um jogo de ferramenta que trazia, mais uns Dodot´s,  óleo da corrente e, quando até já tinha puxado de novo do papel do seguro para ver do reboque eis que consigo por aquilo a trabalhar!
Até parecia que percebia do assunto! Fiquei mesmo contente com isto!
Tinha mesmo sido no reboque que as cintas que prendem a mota tinham, de algum modo, forçado e danificado aquela peça junto ao descanso.
Agora, já nada podia correr mal!
Voltei a avisar os companheiros da retoma!
Que filme, pensava eu!
Com quem nos fomos meter, pensavam eles!
Felizmente, para os lados de Castilla-Leon, estava mais fresco, para variar!
Há certamente muito para ver entre Lisboa e Santander mas não era este o dia!
Gáááás!
Nas estradas da Cantabria os painéis informativos mostravam uma mensagem que, neste dia, parecia dedicada a mim:
 - "O importante es llegar!"
Gostei e animou-me!
Já sem mais surpresas reencontro os meus companheiros de viagem ainda a tempo de jantarmos e bebermos um copo em Corrales de Buelna, a cerca de 30 km de Santander.
Até o responsável do pequeno hotel ficou contente pois já estava a ver-se a arder com o valor de um quarto!
Vai um banho do melhor que isto hoje foi dose!
Noite santa!

Dia 2 - 2018/08/05
Missão Ferry!
Pequeno almoço em sistema de autogestão numa cozinha caseira em hotel caseiro que... correu bem!
Pagamentos feitos, saída em direcção ao porto de Santander.
Uma meia hora de caminho e já estávamos a mostrar documentação às autoridades locais tendo o embarque ocorrido pelas 11h.
No interior do navio Connemara, da Britanny Ferries, acomodámos as motos onde nos indicaram.
O Carlos Bastos queria ficar ao pé dela até a prenderem ao chão mas não teve hipóteses e foi corrido!
Cabine 6-36A com 2 beliches, wc e duche, esperava por nós.
As próximas 27 horas serão passadas por aqui até Cork.
O mar está calmo, não há vento mas nota-se o abanar ligeiro do navio. Espero não enjoar!
O Bastos apesar dos mesmos receios e de ter a mesma sensação decide comer qualquer coisa. Um tomate! Chiça, deve dar um vomitado lindo, pensei eu!
Entretanto o "Vomidrine" do Duarte já o pôs KO ali num sofá.
Nós tentamos a nossa sorte à base de cerveja e gin tónico com excepção do Bastos que se impôs como abstémio a bordo parecendo estranhamente apaixonado por uma garrafa de 1,5 l de água!
Ideias que dali a pouco caíram por terra (ou mar) quando depois do jantar lá fez o favor de beber uma vinhaça, um Crianza 2014. Bem que podia ter-se mantido abstémio...
Olho pelas janelas e vejo nuvens escuras com fartura e vamos em direcção a elas.
A noite de sono revelou-se boa talvez pelo embalo do som dos motores, do ligeiro ondular e do ranger da estruturas das instalações. Este conjunto hipnótico, pelos vistos, resulta!
Houve alguém que se queixou de uns roncos mas não era, certamente, eu. Quanto muito sonhava que já estava a andar de moto!

Dia 3 - 2018/08/06
Irlanda à vista! The Wild Atlantic Way espera-nos! www.wildatlanticway.com
Dia de chegar ao porto de Cork mas a meio da manhã ainda não se vê terra.
Apenas uns albatrozes e uma plataforma petrolífera se mostraram.
Mas, à velocidade informada de 24 nós, lá chegámos!
Procedimentos cuidadosos e demorados na entrada do porto e respectiva atracagem mas aquilo tem 186 m de comprimento e nem se sentiu um encosto!
As motos ainda lá estavam intactas pelo que toca a sair dali!
Esquerda! Atenção que se conduz à esquerda!
Requer efectivamente alguma atenção pois andar "fora de mão", fazer rotundas "ao contrário" e ultrapassar pela direita é, aqui, normal!
Com calminha em direcção ao centro de Cork sem problemas e em fase de adaptação.
Esta malta também parece gostar pouco de números nas portas pelo que o alojamento demorou um pouco mais a encontrar.
Ficámos no Campus Universitário de Cork e ficaríamos aqui de novo no regresso.
Sitio calmo e agradável, lugar para as motos, com cozinha. Boa malha, Duarte!
Acabámos o dia no centro de Cork e regressámos já à noite.
Foi bom passear um pouco a pé depois de tanto tempo no barco.
É claro que, para nos ir lembrando que aqui é assim, já chove!

Dia 4 - 07/08/2018
Saída de Cork pela manhã com tempo que parecia estar bom.
Direcção Kinsale e paragem em Charles Fort para adapatação às fortificações e castelos. E também à chuva que nos fez logo companhia mas, felizmente, por pouco tempo.
A circulação pela esquerda é uma ideia que tem que estar sempre presente mas, mesmo assim, na primeira inversão de marcha que fizémos, retomámos a marcha... fora de mão mas emendámos imediatamente a coisa e ninguém viu!
À medida que avançamos a vontade de ir parando a toda a hora é grande mas queremos fazer percursos que não se compadecem assim com tanta paragem!
Ainda assim encostamos em Timoleague Bay, numa zona de sapal calma e agradável.
Aparece sempre alguém para meter conversa e aqui não é excepção!
Em Bantry paramos também para piquenique depois de termos ido ao supermercado comprar mais qualquer coisa.
Escolhi um "Couscous" e o Bastos insistiu em trazermos uma espécie de salada, coisas verdes, que andávamos a comer pouco disso. Ainda o questionei se queria mesmo aquilo mas, sim, quis!
Ervilhas e feijões, entre outras coisas, tudo cru! Senti-me um verdadeiro herbívoro mas, lá está, nada se estraga! Logo à noite já se janta como deve ser. Talvez!
A caminho de Killarney já nos dá o cheiro ao respectivo Parque Natural com vistas fantásticas para as montanhas e lagos logo que se passa o Molls Gap.
Já a descer para a cidade um desses pontos é o "Ladie´s View" onde aproveitámos também para dar uma passeata a pé.
O tempo passava, estávamos já a meio da tarde e, portanto, toca a descobrir o alojamento.
O GPS dá um jeitão nestas coisas e vamos lá direitinhos.
Mais um local calmo e engraçado num anexo de uma vivenda.
Sala, 2 quartos, pequena cozinha... para mais a sala tem vista para as motas. Está bem!
Alguma engenharia de ocasião para perceber como funciona a água quente mas lá se conseguiu tudo!
Como de costume, a pé para ir jantar!
Desentorpecemos as pernas e, por aqui, a taxa de alcool permitida a quem conduz é... zero!
Tenho a sensação que Killarney é uma cidade de hóteis, B&B's, Air B&B's, Pub´s e restaurantes!
Jantar sem levar com música é quase impossível por estas bandas mas o grupo que nos calha até nem é mau com uma vocalista Ennya style, se é que isso existe!
E o jantar estava bom, embora a sopa e o doce parecessem ser do Portugal dos Pequenitos. Valeu pelo Caril.

Dia 5 - 2018/08/07
Missão "Ring of Kerry" um dos expoentes desta terra!
E, sim, isto é uma viagem pensada, ou julgavam o quê?
A estrada, as estradas, são fantásticas ao longos dos lagos e no Killarney National Park.
Como o tempo estava bom fomos à praia!
Petiscámos o que levávamos em Ballinskelligs. Um descanso esta praia numa baía com uma fortificação numa das pontas! Excelente paragem!
Da parte da tarde fomos até às Kerry Cliffs sempre com vistas imperdíveis das penínsulas de Dingle e Beara.
Estes "Cliffs" são assim uma espécie de Cabos da Roca, Espichel, Sardão ou Boca do Inferno mas não é por isso que não deixa de ser um local bonito e impressionante.
O Carlos Gonçalves dizia que parecia impossível terem-nos cobrado Eur 4,00 para andar ali a subir ladeiras até ao precipicio! Bocas!
No regresso ao alojamento vai de levar com uma carga de água! Ainda parámos para café e secagem antes de chegar. Resultou!
Ali mesmo ao pé do nosso alojamento demos um salto ao Ross Castle e encontrámos o resto da animação turística do dia com o regresso das "charretes" ao centro da cidade.
Menos gente, menos confusão e oportunidade para travarmos conhecimento com 2 italianos pertencentes ao Moto Club Winter Biker´s de Faenza, sendo um deles o Sr. Presidente do mesmo ostentando variadíssimas medalhas, crachás e emblemas acumulados ao longo dos anos num colete que... já podia ser lavado!
Boa gente, certamente!
Fim do dia num jantar à grande e num restaurante sem musiquinhas! Bom!
Terminámos num Celtic Whiskey Bar & Larder para uma Whiskey Experience com 4 variedades irlandesas.
Uma delas tinha um sabor tão intenso a fumeiro que parecia estarmos a beber um enchido acabado de tirar do fumo!
Vamos dormir bem!

Dia 6 - 2018/08/08
Saída de KIllarney com uma manhã que tinha acordado com chuva e fresca (8ºC).
Direcção a Tralee onde encostámos para comprar qualquer coisa e irmos petiscando durante o dia.
Cidade com um ar menos turístico, mais genuíno e com um pulsar mais natural.
Escusava era de se ter pregado a chover antes de chegarmos ao sítio onde estacionámos!
Intensificou-se a chuva e, para não nos molharmos ainda mais, entrámos a correr pela igreja dentro.
Por pouco não atropelámos um funeral que nesse momento vinha a sair!
Ficámos ali os 4, especados e encostados à parede a 3 metros do padre, da família, do caixão...
Lá nos ajeitámos para os lados e a cerimónia continuou em paz. Felizmente os acompanhantes perceberam a nossa atrapalhação e alguns esboçaram sorrisos depois de o sacerdote nos ter dado a benção! RIP!
Daqui para a frente, sempre a chover! Abençoados impermeáveis, pneus e alcatrão que proporciona boa aderência mas que parece comer os pneus!
Tanto vento e chuva levou-nos a passar por ferry em Tarbert evitando assim mais tareia naquela península que, para a circundar, daria uns 80 km´s.
Ferry com eles!
Ser acompanhado por 2 Bê-Émes tem as suas vantagens! Ofuscam tudo à sua volta com a sua dimensão, com os seus extras! Tanto que a minha singela e magrinha CBF 600 nem bilhete pagou... nem eu! Siga, pois então, e tanqiuvérimache que estes Eur 9,00 hão-de dar para 2 jólas!
Continuou alguma chuva e vento até às Cliff´s de Moher.
Num ataque ninja de "Tuga-teso" estacionámos as motas, depois de muita ginástica, fora dos parques de estacionamento numa berma meio acesso a uma propriedade mas... nada de pagar! Uma vitória!
Aqui parece juntar-se meio mundo para ir passear até às falésias.
Impressionantes e bonitas mas não assim tão impressionantes para quem convive como nós com a nossa costa. Vocês percebem!
Não lhes tira importância nem beleza mas a nossa bitola... está alta!
Volta cumprida para o "curriculum" e toca a andar que se faz tarde para encontrar o alojamento de hoje.
Encontro marcado com a responsável do mesmo para nos conduzir por um pequeno caminho até à cabana de madeira que nos esperava.
Que óasis depois deste dia!
Já nem apeteceu sair e fomos só 2 ao supermercado mais perto buscar mantimentos para fazer em casa.
Mantimentos e duas garrafinhas de vinho que nem só de pão se vive!
Lombo de porco fatiado frito na frigideira confeccionado pelo Carlos Gonçalves e carregado de piri-piri pelo Duarte com umas batatas no forno e uma salada fizeram desta refeição um manjar à Master Chef! Valeu!

Dia 7 - 2018/08/09
Reservado o dia para a área do Connemara National Park envovendo as montanhas a Oeste de Galway, os lagos, o fiorde de Kilary e ainda dar um saltinho à Kylemore Abbey.
Bom... que dia!
Tivemos a sorte de apenas apanhar uns chuviscos no início do dia tendo estado o resto do tempo uma luz e uma temperatura do melhor que se pode pedir!
Estradas, lagos, montanhas, paisagens tão variadas que as fotos não permitem um bom julgamento do que presenciámos.
Desde o pitoresco dos pequenos portos à natureza no Parque Nacional de Connemara com toda a sua diversidade e caminhos pedestres onde se pode observar a turfa naturalmente passando pelos recortados lagos tudo trasmitiu um encantamento que me surpreendeu.
Regresso feito por estrada ao longo do Lago Kylemore e Fiorde Killary sempre com a tentação de ir parando.
No regresso à cabana tivemos recepção de luxo com jantar preparado pelo Carlos Bastos que neste dia fez gazeta! Abençoadinho sejas depois de teres arriscado a vida tendo ido a pé à povoação buscar as coisas naquelas estradas tão estreitas ladeadas de silvas! A prova estava nos sacos que transportou todos ratados por essas silvas das bermas quando um carro ou máquina agrícola se cruzava com ele! E com uma moto à porta! Há gente estranha...
Fez uma bolonhesa com ingredientes naturais que estava mesmo boa.
Tendo em conta a cara muito séria que me fez, quase ameaçadora, quando fui buscar o ketchup para por por cima daquilo tudo, evitei a coisa e ficámos todos amigos como dantes!
Terminámos, pois, em grande!

Dia 8 - 2018/08/10
Hoje é dia de chegar a Dublin com passagem por Galway. 
O dia deixava antever alguma chuva pelo que os impermeáveis ficaram à mão.
Começámos por Kinvarra que é mais uma povoação pitoresca com um simpático porto e um castelo que parece estar só mais direccionado para eventos.
Nota ainda para um conjunto de casas com cobertura de colmo muito bonitas junto à estrada.
Voltinha cumprida e seguimos para Galway.
Galway... não fosse a voltinha a pé que fizémos ao longo do rio e barragem da marina e o raio da terra mais parecia Albufeira em inglês, ainda mais inglês!

É pub atrás de pub cada um competindo por mais barulho e músicas!
Juntam-se as lojas de produtos "very typical" e "gifts"e está a barraca armada!
O turismo massificado é capaz de muita coisa!
Dali para Dublin vai de apanhar a AE que queríamos despachar serviço!
Estes cerca de 200 Km, quase todos em AE, custam para as motos Eur 2,50. É fazer as contas...
Encontrado o alojamento o desafio foi dar com o código da caixinha que tinha as chaves no interior. Entre estes 4 "engenheiros" lá obtivemos sucesso!
Tempo para banho, descanso e reconhecimento territorial da zona mais "cópófónica" de Dublin, perto do Temple Bar.
Sábado, dia de meia final entre Galway e Dublin em futebol gaélico e aquilo estava ao rubro! Animação em barda!
Acabámos a jantar num italiano depois de uma tentativa falhada de reserva num outro restaurante ali ao lado! Baralham-se com o movimento! Deve ser do barulho das luzes!

Dia 9 - 2018/08/11
Dublin, agora by day!
Hoje a ideia passa por ir visitar o edifício da prisão, Kilmainham Gaol e zona do Hospital. Este edifício retrata em si a muito fresca história trágica da Irlanda cuja independência apenas foi reconhecida na década de 20! 
Impressionante a arquitectura deste edifício pensado de raiz para a função tendo por princípios o isolamento, o trabalho e a vigilância constante forçando um arrependimento por parte dos reclusos.
Esta é uma alteração importante já que até à época os detidos eram mantidos todos juntos dentro de espaços para esse fim destinados.
É impressionante a ala central desta instalação! Valeu!
Era também dia da meia maratona Rock & Roll e a zona do Hospital estava ainda a receber com grande animação os corredores! Ao som de Stones, Sting, Pogues, Tom Petty, Springsteen até custa menos a correr!
A seguir mais outra referência na cidade e na Irlanda:
Guiness!
A fabrica situa-se literalmente no meio da cidade e tem uma dimensão absolutamente impressionante!
A Guiness Storehouse é uma máquina bem montada com base na marca.
É muito mais que uma fábrica de cerveja ou um museu da fabricação desta bebida.
Acabámos por também almoçar por lá e disfrutar da coisa!
Sim, é caro, mas inclui... uma cerveja! Uns mãos largas!
O Carlos Gonçalves, bem ao seu jeito, diz que pagámos para ir almoçar a uma cantina!
Sim, um dos restaurantes já foi em tempos uma cantina da fábrica.
Terminámos com uma ida ao bar no último andar. Imperdível e uma das melhores vistas de Dublin!
É também admirável compreender esta máquina de fazer dinheiro!
À noite queríamos fugir um pouco do ambiente mais turistico e procuramos ir a um pub mais local. E penso que conseguimos! L. Mulligan Grocer onde também jantámos bem.

Dia 10 - 2018/08/12
Ontem deitei-me convencido que hoje teria que sair de Dublin já em direccçaõ a Cork!
A cerveja era realmente boa!
Confirma-se, portanto, que hoje também é "dia livre" em Dublin e aí vai disto!
Comprado bilhete de 1 dia para o electrico cá do sítio, mais ao jeito do nosso "Andante" que aqui dá pelo nome de "LUAS", ataca-se Trinity College para apreciar o local, a biblioteca, o "Book of Kells", e até a harpa mais antiga da Irlanda, um símbolo deste país.
Deambulamos depois pelos parques St. Stephens Green e Merrion Square, a evitar as gaivotas ávidas de nos rapar as sandochas, aproveitando para ver uma escultura ali colocada em homenagem a Oscar Wilde e uma outra de Philip Lynott, membro dos Thin Lyzzy, desaparecido em 1986. Grandes malhas, Phil!  
Era 2ª feira e sentia-se aqui o pulsar natural do coração de uma cidade junto das suas zonas comerciais mais nobres, junto do histórico edifício dos Correios e da Spire que substituiu a estátua de Nelson danificada em 1966.
Passagens ainda pelo City Hall, castelo, catedrais de St.Patrick e St. Christ.
Havia quem insistisse que havia um "outro" City Hall muito mais grandioso mas afinal... era em Belfast! Estás perdoado, Carlos Bastos!
Já que tínhamos o bilhete de electrico ainda nos deslocámos até às novas zonas da cidade em construção junto ao porto e a lembrar um pouco o sucedido em Lisboa no pós Expo 98.Vai surgir uma nova Dublin por ali. Para variar, terminámos mais uma vez o dia/noite num pub mas, não sei porquê, não me lembro de grande coisa...


Dia 11 - 2018/08/13
Hoje, sim, é dia de rumar a Cork. 
Vai de arrumar tudo nas malas e encaixar esse tudo nas motas! Um ritual já afinado!
As previsões meteorológicas apontam bom tempo mas isso não importa nada!
Estamos na Irlanda e lá fora chove!
Impermeáveis vestidos que só abandonámos à tarde.
Tínhamos tempo e preferimos fazer o caminho por estradas mais pequenas que nos levassem pelas "Wicklow Mountains".
Estradas fantásticas que nos conduziram pelos lagos até Glendalough.
Houve momentos que lembravam aquela nossa Sintra mais fechada de árvores, sombria e húmida.
Após "Sally Gap" a descida até à povoação é um espectáculo sempre a acompanhar o vale numa sucessão de curvas com boa visibilidade e bom piso. Uma maravilha!
Valeu esta opção da vinda pelas montanhas que tendo apenas uns 800 m de altitude se impõem na paisagem.
Glendalough é um local onde estava localizado um antigo mosteiro que vale pela sua localização neste vale. O vale dos 2 lagos.
Está em ruínas mas manteve-se uma torre de refugio e vigilância em bom estado de conservação.
Circula-se livremente entre as campas do cemitério, algumas já caídas, que me parecem merecer um pouco mais de atenção e cuidado por parte dos responsáveis do local.
A caminho ainda nos chegámos de novo ao mar podendo ir apreciando a estrada e as vistas que Wiclow e Waterford nos oferecem.

Chegámos a Cork em cima da hora de ponta, coisa que estranhámos ou a que já não estávamos acostumados nestes últimos dias.
De novo alojados no Campus universitário e... jantarinho de despedida da Irlanda. Haja tema!
Amanhã... 27 horas de barco até Santander!

Dia 12 - 2018/08/14
Manhã acordou meio para o nublado mas as previsões até nem eram, uma vez mais, más de todo.
Erro!
Vai de chover à força toda até ao porto de embarque e, como era perto, nem me dei ao trabalho de colocar os impermeáveis!
No momento do embarque parecia Inverno com excepção da temperatura que, felizmente, se manteve amena.
Logo havia de secar...
Face ao vento e ao mar um pouco agitado tratei logo de tomar o "Vomidrine" a título de precaução.
Uma coisa é certa, do comprimido ou não, não enjoei nadinha!
O mesmo já não se pode dizer dos meus companheiros de viagem que, muito machos, não quiseram tomar nada!
Desapareceram em combate com uma cor estranha e um olhar vago! Talvez tivessem enjoados, talvez.
Deitaram-se às 17h e só se levantaram no dia seguinte às 8h!
No meio disto tudo fui ficando pelas salas comuns do navio que mais parecia transportar uma equipa de bêbados tendo em conta que ninguém andava a direito ou sem desiquilibrios!
Sózinho por ali, abandonado aos ventos e mares adversos, acabei por ter que mandar abaixo uma garrafita de vinho com uns queijitos que tiveram que render até mais não!
Bem disposto mas com os copos lá me fui deitar pelas 2h depois de ter estado na palhaçada via WhatsApp.
Excelente companhia num navio agora fantasma!
Noite santa!

Dia 13 - 2018/08/15
Atracámos sem atrasos em Santander pelas 15h locais.
Depois de tanta agitação marítima para estes marinheiros de sequeiro até estranhámos as motas estarem tão direitinhas no porão.
Direita! Agora, atenção, que se conduz pela direita!
E direitinhos fomos até Corral de Iguna, a uns 30 Km de Santander, para nos alojarmos num "Turismo Rural" bem castiço.
Havia tempo e fomos dar um passeio a pé pelas imediações.
Mais uma carga de água, para não haver lugar a saudades, até chegarmos a uma povoação vizinha que estava em festa. Mas que raio de festa tão fraquinha! Nem fazia justiça ao ambiente de "fiesta" típico em Espanha!
Enfim, valeu o whisky ao mesmo preço que as cervejas... Eur 1,50. Comida? Nada! 
Ainda tentámos a sorte num bar junto à estrada mas aquilo não nos inspirou por aí além, digamos assim.
Acabámos por ir de moto a um outro local comer um polvo à galega, uma tábua de queijos e uns "entremeses" fritos que, já que ali estavam, também marcharam!
Era tempo de recolher à base que amanhã é dia de regresso à República Portuguesa!
O Duarte e o Carlos Gonçalves sairão mais cedo e farão o regresso sózinhos pois têm compromissos a cumprir em Lisboa.
Eu e o Carlos Bastos seguiremos depois com mais calma.

Dia 14 - 2018/08/16
Nem dei conta de eles terem saído mais cedo nesta manhã pois gostaria de lhes ter desejado uma boa viagem até casa.
Depois do pequeno almoço eram horas de nos fazermos à estrada. Chuva com fatura, pois então, para manter viva a Irlanda por cá!
Até à entrada de Castilla-Leon a chuva e o nevoeiro não nos largaram e, só ao fim de 200 km, nos pudemos ver livres dos impermeáveis.
Nessa paragem, em conversa, pensámos em sair em direcção a Zamora para depois entrarmos em Portugal por Miranda do Douro.
Não ter horários ou grandes compromissos tem destas vantagens e assim fizemos.
Largámos as AE´s e rumámos a Miranda pela ZA-324, daí apanhámos a N221 e seguiu-se Mogadouro, Freixo, Barca, Escalhão virando depois para a N322 em direccção a Vilar Formoso e a N16 para a Guarda.
Não é fácil fugir às AE´s e IC´s com as indicações de estrada pelo que vale a pena levarem um bom mapa mesmo que tenham GPS.
São paisagens imperdíveis estas deste Douro Internacional bem mais selvagem que o Douro vinhateiro mais a Oeste,
Vale mesmo a pena perderem-se por aqui e seria quase um crime estar tão perto e não aproveitar esta farturinha de curvas e vistas!
Dá ainda para visitar Almeida, Castelo Melhor, Castelo Bom, Castelo Mendo entre muitos locais de eleição.
Já na Guarda, em casa do Carlos Bastos, matámos saudades de uma comida mais "daqui" e deitámos abaixo um excelente bacalhau cozido com batatas! Do melhor!

Dia 15 - 2018/08/17
Último dia de viagem. Desta viagem.
Voltar a Lisboa era o objectivo de hoje e lá nos preparámos para enfrentar o calor que por aqui se sente.
Mais uma vez nada de AE´s e tomámos a N18 em direcção a Castelo Branco.
Quem não conhece valerá a pena um dia circular nesta via que acompanha este vale da Guarda até à Covilhã.
Lá nos fomos dirigindo para o nosso destino ao qual chegámos pela hora de almoço. E que almoço! Recepção de luxo com uma jardineira caseira que a Teresa nos ofereceu!
Motos paradas!

Assim se passaram estes dias nos cerca de 3.500 Km cumpridos restando-me agradecer aos meus extraordinários companheiros de viagem, Carlos Gonçalves, Carlos Bastos e Duarte Chilrito a camaradagem que proporcionaram. Nem sempre é fácil conjugar tudo mas tudo funcionou!
Renato, desta vez não deu mas da próxima não escapas! Um abraço!
Aos amigos e família com quem fui partilhando umas fotos, mensagens, conversas nesta realidade das redes sociais e sem roaming também um grande obrigado! São uma grande companhia!
Não poderia deixar de agradecer também ao Vitor Marinho que se disponibilizou no imediato para me reparar a moto naquele 1º dia de viagem em que me vi obrigado a regressar a Lisboa num reboque. Sem esta ajuda talvez não tivesse tido hipóteses de me fazer de novo à estrada a tempo de apanhar o barco em Santander. Há atitudes que o dinheiro não consegue pagar.

Nesta coisa das viagens, particularmente estas das motas, existe aqui uma certa irracionalidade dificil de explicar.
Afinal o que leva pessoas, aparentemente, mentalmente saudáveis a meterem-se numa coisa destas?
É mais caro, mais incómodo, circula-se num veículo do lado de fora do mesmo, é a chuva, é o calor, é a panóplia de casacos pesados, impermeáveis, luvas, capacetes, cadeados e sei lá mais o quê!
Que diabo, alguma coisa deve ser!
Sim, algumas coisas deverão levar a isto!
Não sei bem mas termino com Oscar Wilde:
"Posso resistir a tudo, menos às tentações!"
Se conseguiram chegar até aqui aceitem as minhas humildes desculpas por tanta palavra aqui despejada.
Até à próxima!